Em um mundo globalizado, somos constantemente bombardeados por uma avalanche de informações que moldam nossa percepção da realidade. No entanto, o cérebro humano tem limitações para processar tudo isso de forma coerente. O resultado? Conflitos internos que surgem ao tentarmos conciliar nossas crenças com o que vemos e vivemos.

O que é Dissonância Cognitiva?

A dissonância cognitiva é o desconforto psicológico que sentimos quando percebemos uma contradição entre nossas ações e nossas crenças. Para aliviar essa tensão, nosso cérebro nos leva a justificar ou racionalizar nossas escolhas, mesmo que elas contradigam o que sabemos ser verdade. Esse fenômeno, identificado pelo psicólogo Leon Festinger na década de 1950, mostra como nossa mente busca a consistência a todo custo, mesmo que isso signifique distorcer a realidade.

Um exemplo clássico e fascinante desse fenômeno é o caso de um grupo liderado por Dorothy Martin nos anos 1950. Eles acreditavam que desastres iminentes iriam ocorrer, mas quando as profecias não se concretizaram, em vez de questionarem suas crenças, eles as reforçaram. O grupo reinterpretou os eventos para justificar sua fé, mostrando a força da dissonância e a tendência humana de proteger o que já acreditamos.

A Dissonância Amplificada pela Tecnologia e Religião

Hoje, a dissonância cognitiva é ainda mais potente, impulsionada pelas mídias sociais e narrativas extremistas. O que acontece na internet amplifica essa tendência de várias maneiras:

  • Bolhas de Filtro e Câmaras de Eco: Algoritmos nos mostram apenas conteúdos que reforçam nossas crenças, criando uma "realidade virtual" isolada. Essa falta de exposição a ideias diferentes torna o mundo mais polarizado e reduz a chance de questionarmos nossas próprias visões.
  • Compartilhamento Seletivo: Na internet, compartilhamos apenas o que se alinha com nossa visão de mundo. Isso não só reforça nossa identidade, mas também solidifica nossa bolha, tornando o diálogo com o "diferente" cada vez mais difícil.

Onde a religião se encaixa? Embora a fé possa ser uma fonte de propósito e comunidade, ela também pode amplificar a dissonância. Crenças religiosas profundas podem ser tão firmes que, quando confrontadas com evidências contraditórias, a pessoa pode entrar em um estado de negação profunda. Por exemplo, quando dogmas religiosos são usados para justificar preconceitos, o fiel pode racionalizar suas ações para manter a coesão entre sua crença e seu comportamento, ignorando o impacto negativo de suas atitudes. Nesse contexto, a dissonância cognitiva é usada para proteger o sistema de crenças, mesmo que isso custe a empatia e a capacidade de autocrítica.

Essa manipulação digital e ideológica tem consequências profundas para nossa saúde mental e para a sociedade. Quando nos tornamos dependentes dos algoritmos que moldam nossas percepções, corremos o risco de nos tornarmos passivos, alienados, incapazes de distinguir entre o que é real e o que é fabricado.

Como nos Proteger?

É fundamental que reflitamos sobre o impacto das mídias sociais e de outras narrativas em nossas vidas. Precisamos ir além do consumo passivo e assumir o controle de nossas mentes. Para isso, podemos:

  • Questionar a origem das informações: Antes de aceitar algo como verdade, pense sobre quem está divulgando a informação e qual pode ser a motivação.
  • Buscar fontes diversas: Não dependa de uma única fonte ou tipo de conteúdo. Ler notícias de diferentes veículos, seguir pessoas com visões variadas e ouvir diferentes perspectivas ajuda a criar uma compreensão mais completa do mundo.
  • Manter o pensamento crítico: A capacidade de analisar e julgar informações de forma autônoma é a nossa principal defesa contra a manipulação.

A sociedade digital nos apresenta desafios inéditos, mas também a oportunidade de redefinir nossa relação com a informação. A chave está em usarmos a tecnologia de forma consciente, preservando nossa capacidade de pensar criticamente e agir com autenticidade. Afinal, a nossa mente e as nossas escolhas são as únicas coisas que realmente podemos controlar.

by Geórgia Lyma

Psicóloga Clínica e Escolar , Neuropsicóloga, Especialista em Gestão na Educação, Educadora Física, Profissional da Dança, Aplacadora Método ABA, Perita Judicial